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The Color Purple – Uma Viagem Pelas Cores

Laurie Pressman Laurie Pressman
Vice Presidente, Pantone Color Institute™
17 de Janeiro, 2024

A história do filme The Color Purple é a história da cor, expressando influências criativas, culturais e sociais através do uso intencional da cor, característico para traçar a jornada de cada um dos personagens à medida que seus mundos internos e externos florescem e evoluem. Representando o drama tanto da não-cor quanto da cor, este indicador subconsciente de expressão de cada personagem é cuidadosamente respeitado e fiel à sua época. Desde os tons suaves e mais discretos, monótonos e secos e opacos que se misturavam com a trama em torno do mundo habitado por Celie e Nettie e o momento “uau” que começa quando vemos Shug Avery sair do barco em seu vestido vermelho radiante, e vai até a aplicação deliberada e rara da cor púrpura, ou do roxo, e o uso do branco como símbolo de novos começos, a cor desempenha um papel central, dando-nos uma visão do que está acontecendo dentro de cada um desses personagens em um determinado momento, criando a magia e o clima que traz à vida a história icônica de Alice Walker.

No início da produção, o diretor Blitz Bazawule teve que definir qual o papel da cor na reedição do filme The Color Purple, para digerir a bela narrativa poética da autora Alice Walker e decifrar as suas entrelinhas. Socializando para ver as cores em suas inúmeras miríades, ele, junto com sua equipe – especialmente o diretor de fotografia Dan Laustsen, o designer de produção Paul D. Austerberry e a figurinista Francine Jamison-Tanchuck – foram muito cautelosos e conscientes na maneira como as cores estavam evoluindo, quem iria ter poder e quem não teria poder, quem estaria num estado de inocência e quem não estaria e como usar a cor para contar essa história. Este era o foco deles. Eles não queriam que o uso da cor fosse evidente a ponto de te levar a sentir um engajamento ou outro, mas queriam que suas escolhas de cores transmitissem naturalmente um sentimento, de modo que cada tom desse voz a algo a mais no subconsciente dos espectadores.

O resultado é um filme cuja abordagem consciente da cor cria uma linguagem visual que destaca o poder da cor como ferramenta para contar histórias. Elas capturam o espírito do romance, dando a Celie, sua protagonista, uma profundidade emocional ainda maior. Usando três cores principais (Red Royalty, Purple Love e um tom branco que chamamos de New Beginnings – Novos Começos) para enfatizar os traços da personalidade dos personagens, entendemos visualmente os eventos que estão acontecendo e podemos captar mudanças de caráter sutis e a natureza mutável dos relacionamentos entre os personagens ao longo do filme. Esta é uma prova do cuidado com as cores na direção de arte do filme e de sua capacidade de usá-las para aumentarem o impacto emocional da história.

A jornada de Celie

Foto de Eli Adé

Cortesia da Warner Bros. Pictures

À medida que a jornada de Celie começa, nós a vemos usando tons terrosos, marrons dourados desbotados e verdes suaves como a espuma do mar, cores que se misturavam com a trama do mundo em que ela vivia, seja em sua casa ou na fazenda. Por outro lado, à noite, em momentos de liberdade e expressividade, ela resolve sua dor e seu trauma escapando para uma paisagem onírica vívida, cheia de cores ricas e elegantes. Shug influencia a fusão desses dois mundos para Celie, e seu personagem se torna brilhante, refletido em looks verdes e azul-petróleo mais luminosos ao ler as cartas que recebe de Nettie, ou um vestido azul-petróleo escuro que ela usa quando visita Sofia na prisão, um contraste notável com o cinza fosco que Sofia está usando.

A mudança de Celie para o roxo é um sinal de que ela está encontrando sua voz, pois se revela na estampa floral roxa que ela usa quando abandona Mister. O batom vermelho que ela usa no funeral do pai é outro sinal de sua crescente confiança em si mesma. À medida que Celie floresce para uma vida mais plena e rica que ela sente merecer e que percebe como sendo o seu destino, as cores que ela usa tornam-se mais iluminadas, tanto que no final do filme há um mundo de vibração, exuberância e riqueza na paleta de cores.

Storytelling sobre as cores

Red Royalty

Cortesia da Warner Bros. Pictures

Foto de Eli Adé

Frequentemente associamos o vermelho com paixão e poder, coragem e força. Em A Cor Púrpura, o vermelho cria um conceito que permite ao público compreender que cada vez que vemos o vermelho sendo usado, ele é um indicador subconsciente relacionado ao sentimento de poder de um personagem e, mais especialmente, ao poder de determinar o seu próprio destino.

Quando Shug Avery entra em cena, fazendo sua entrada triunfal no estabelecimento estilo juke joint de Harpo, ela está usando um vestido vermelho radiante, chamando a atenção para sua presença na cena e criando um impacto dramático. Esperamos isso de Shug, uma personagem que é maior que a vida e com uma força latente a ser reconhecida, sendo que o uso do vermelho e sua demonstração de coragem e entusiasmo se alinham com a personalidade ousada e vivaz de sua personagem.

Quando Shug não precisa mais tanto desse poder, ela para de usar esse tom vermelho potente, passando esse poder para Celie que, quando vemos pela primeira vez em sua loja, está vestida de vermelho da cabeça aos pés, perguntando “Olha quem está usando calças agora”, sinalizando para todos nós que ela agora se sente forte, confiante e com poder para determinar seu próprio destino. Este é um momento chave no desenvolvimento da personagem de Celie, pois indica claramente que ela finalmente cresceu. Momento que fica ainda mais enfatizado em sua interação com Mister quando ele entra na loja para comprar uma calça e a trata com todo um novo respeito.

O vermelho também desempenha um papel importante nos sonhos de Celie, quando ela vê a tribo Ashanti que, vestida em trajes no estilo Kente, desempenha um papel significativo na narrativa africana. Celie primeiro imagina a África nos tons dourados e mais ricos da realeza, que exalam riqueza e opulência, mas quando vemos os homens e mulheres da tribo sendo expulsos de suas terras, eles estão vestidos de vermelho e preto, significando um período de luto, quando você perdeu algo ou alguém.

Purple Love

Foto de Ser Baffo

No filme A Cor Púrpura, a raridade com a qual esta cor é usada na paleta visual foi uma escolha artística significativa.

Mantendo-nos fiéis à citação de Shug, ela diz a Celie no filme: “Acho que Deus se irrita muito se você passar pela cor roxa e não a perceber”, cada uso de roxo ao longo do filme foi intencional, desde o mar de flores roxas na campina até as flores púrpuras no vestido que Celie está usando enquanto experimenta um despertar espiritual e toma a decisão de deixar Mister. O motivo dessa intencionalidade foi destacar a raridade dessa cor, a raridade da vida, a raridade dos indivíduos e, o mais importante, a raridade de alguém tão especial como Celie. Neste caso, o roxo serve como um lembrete visual da beleza do mundo e do crescente reconhecimento de Celie sobre seu próprio valor e potencial.

No contexto da jornada de Celie, Celie era aquela linda flor que foi maltratada e não totalmente apreciada. No final das contas, era isso que Shug estava tentando ensinar a Celie: o quão especial ela era e o quão individual ela era. Que Celie era exatamente como a cor roxa e que ela precisava de um tempo para se conectar e se perceber, porque “irrita Deus” se você passar por si mesmo e não perceber o que há em você que o torna especial. O uso do púrpura serve como um lembrete visual da beleza do mundo e do crescente reconhecimento de Celie sobre seu próprio valor e potencial.

Para garantir a importância do roxo no filme, os cineastas seguiram esse conceito, usando essa cor apenas quando era necessária e da forma mais dissimulada possível, para que, quando estivesse presente, fosse especial e única. A Cor Púrpura é em si mesmo este seu próprio pedacinho de roxo e, em última análise, é isso que eles querem que as pessoas façam. Que entrem neste filme e percebam isso.

Apenas nos cinemas

A story of love and resilience, Uma história de amor e resiliência, A Cor Púrpura é um filme que conta em décadas a jornada de uma mulher rumo à sua independência.

Branco, New Beginnings, um símbolo de novos começos

Cortesia da Warner Bros. Pictures

Associado à inocência, à suspensão da hostilidade e à pomba da paz, o branco pode ser considerado uma cor conciliadora, uma cor que transmite uma mensagem de abertura de uma nova página ou de desejo de um novo começo. Em The Color Purple, os tons brancos pretendem transmitir uma mensagem de harmonia e inocência. Quando o filme estreia, as jovens estão vestidas de branco, destacando um momento em que se encontram neste reino de inocência, pois Celie ainda não se separou de Nettie, sua querida irmã. Neste contexto, o branco reflete o amor puro de uma pelo outra. O branco é novamente usado quando Shug, totalmente vestida de branco, visita o seu pai, um pai distante, na igreja, procurando fazer as pazes. No final do filme, quando Celie se reúne com os filhos e a irmã e vemos toda a família vestida de branco reunida em volta da mesa, com Mister ao seu lado, tudo na cena é mantido nos tons de branco, mostrando como cada um dos personagens deu uma volta completa, perdoando uns aos outros pelas feridas do passado, fazendo as pazes entre si e começando uma nova vida.

Cortesia da Warner Bros. Pictures

Conectando as Cores

O uso contrastante de vermelho, branco e roxo em The Color Purple cria uma narrativa de cores mais ampla. Vermelho, com suas aparições frequentes, ressalta as paixões e pontos fortes dos personagens, principalmente Celie e Shug. Branco, no seu uso mais restrito, envia uma mensagem de paz e perdão. O roxo, nas suas raras aparições, destaca os momentos de beleza que muitas vezes são esquecidos ou ignorados, mas que são essenciais para a nossa felicidade e o nosso valor como seres humanos, bem como são cruciais para o crescimento pessoal e a cura espiritual de Celie.

A interação entre a presença frequente e intensa do vermelho, os usos simbólicos do branco e a aparência minimalista, mas altamente impactante, do roxo, tece uma trama visual que espelha os temas centrais de The Color Purple: a necessidade de empoderamento, a força e a determinação do espírito humano, da nossa capacidade de perdoar e virar uma nova página, e da importância de reconhecer e valorizar a beleza da vida.

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