Bon Iver x Pantone: A História de um Makeover Musical Contado em Cores

As duas cores da capa do álbum mais recente do Bon Iver, SABLE, fABLE — o preto marcante e o Pantone 1625 CP — contam uma história simples que, como todas as melhores, foi complexa em sua concepção. A segunda cor passou a ser conhecida no universo Bon Iver como “salmão”. A referência ao peixe é intencional, mas também são as associações com outras coisas, como pores do sol e a parte interna da pele.

Para Justin Vernon, líder do Bon Iver desde o início da banda em 2006, o salmão é uma cor favorita desde que ele imaginou, pela primeira vez, o sol se pondo nos céus de Los Angeles, quando era um “garoto emo que ouvia Jackson Browne”, como ele mesmo descreve, crescendo no Meio-Oeste. Mas sua afeição se aprofundou — como evidência a tatuagem de um salmão de barriga rosada em seu braço, inspirada em uma música da banda Ticonderoga. “Uma parte diz: ‘Tenho subido o rio para desovar de novo, para reproduzir só para morrer’”, lembrou Vernon. “É a vida de um salmão: subir o rio só para morrer, por amor. O romântico-triste em mim adorava isso.”

Vernon foi categórico ao exigir que o tatuador prestasse atenção especial à cor do próprio peixe — uma representação realista da cor de carne sobre a sua própria. E isso oferece uma chave para algo além daquilo que está na superfície. “Sempre pensei que, por baixo da nossa pele, não importa qual seja o pigmento, existe esse tipo de cor de barriga de salmão quando ela é aberta”, disse Vernon. “Sempre pensei sobre a humanidade disso.”

SABLE, fABLE é incomum por serem dois discos em um, ambos concebidos em um período em que Vernon acreditava que não faria mais nenhum álbum. “Achei que tinha terminado”, disse ele sobre sua decisão de, na prática, encerrar o Bon Iver após o fim da turnê de 2023. “Eu me demiti e dispensei todo mundo. Eu estava por conta própria.”

Créditos de Imagem: Erinn Springer

Mas, então, as três músicas que compõem SABLE encontraram seu caminho para o mundo no mesmo tom emocional das primeiras composições de Vernon, presentes em álbuns como seu trabalho decisivo For Emma, Forever Ago. Depois vieram as nove músicas de fABLE, com uma guinada estilística que sinaliza uma virada otimista em direção à possibilidade de contentamento. “Onde SABLE foi uma obra de solidão”, dizem os materiais de divulgação de Bon Iver, “fABLE é uma mão que se estende.”

Para conceber a arte de duas composições de músicas que acabariam se tornando uma só, Vernon procurou Ruben Nusz, um pintor cujo trabalho ele tinha visto em uma exposição intitulada “How to Look Wrong” em uma galeria de Minneapolis. “Eu fiquei nas nuvens”, disse Nusz ao descobrir que Vernon tinha interesse em suas pinturas abstratas. “Como artista, especialmente no Meio-Oeste, Justin alcançou um status quase mítico. Ele se tornou para Wisconsin o que Prince é para Minnesota — icônico.”

Vernon achava que queria encomendar uma pintura para a arte do álbum, mas, depois de visitar o estúdio de Nusz, acabou fascinado por uma fotografia de um cacto cercado por uma espécie de moldura na cor salmão que, na verdade, não era uma moldura. “Tenho feito essas pinturas de molduras trompe-l’oeil há mais de uma década”, disse Nusz, “em que a moldura é pintada e a composição de cores então subverte a realidade implícita da moldura. De certo modo, isso se alinhou com a visão de Justin para a capa do álbum. A capa de SABLE, fABLE emoldura e encena a música.”

Vernon lembra de uma sensação de certeza que o tomou quando se deparou com o conceito. “Tenho dificuldade com colaboração porque sempre quero que as pessoas façam o que elas fazem”, disse ele. “Mas me lembro de, naquele momento, pensar: Justin, você sente isso muito intensamente sobre essa cor salmão, e simplesmente disse: ‘Não poderia estar mais certo de que é nisso que estamos trabalhando agora.’”

Créditos de Imagem: Ruben Nusz

Com a ideia do salmão definida, o trabalho passou a identificar o tom preciso. “Foi divertido ajustar a cor específica para a visão do Justin”, lembrou Nusz. “Muita gente não sabe que vemos cor não apenas através de vieses culturais, mas também pela lente da linguagem. Cor e linguagem são inseparáveis. À medida que ajustávamos as temperaturas da cor do salmão (entre fria e quente) e os matizes que se misturam para formar a cor, tomamos cuidado para não deixar o salmão muito vermelho, muito amarelo ou muito laranja. Quando uma cor é mais abstrata, ela fica menos presa à linguagem — ela se abre. Ao aperfeiçoarmos a cor, ela passou a ser definida por duas palavras: Bon Iver.”

Créditos de Imagem: Eric Carlson

“Este álbum falou por si mesmo de uma maneira diferente dos anteriores.”, disse Miles Johnson, chefe de arte e design do Secretly Group, cujo selo Jajaguwar lançou SABLE, fABLE. “Há muito espaço [na arte da capa] que dá acesso a um álbum, mas também pode agir como uma barreira ou alterar sua percepção da música. Justin estava muito interessado aqui em continuar removendo quaisquer camadas que pudessem estar por cima.”

Em suas primeiras conversas, Vernon e Nusz brincaram com diferentes ideias sobre o que poderia funcionar no centro da moldura, mas acabaram optando pela opção mais simples: a própria cor. “‘Sable’, por definição, é preto, então fazia sentido partir disso”, disse Nusz. “Ligamos SABLE a fABLE usando uma forma minimalista, no estilo de Josef Albers, que ecoava o formato quadrado do disco, para que a cor viesse para o primeiro plano e a especificidade de uma imagem não competisse com a música. A cor salmão, para Justin, era uma cor humana, uma cor unificadora, como a cor por baixo de toda carne humana. Também sugeria um estado emocional em transformação que Justin estava explorando com a música.”

“Muitas pessoas não sabem que vemos a cor não apenas através de vieses culturais, mas também pela lente da linguagem. Cor e linguagem são inseparáveis.”

— Ruben Nusz, artista & pintor

Quando chegou a hora de estabelecer um padrão, Vernon, Nusz e Johnson identificaram quatro amostras do Pantone Formula Guide e reduziram para duas: Pantone 1625 CP e Pantone 170 CP. “Grande parte da escolha tinha a ver com sutileza e saturação”, disse Johnson. “Se você olhar para o 170 em comparação com o Pantone 1625, eles parecem bastante próximos em matiz. Mas havia uma sutileza na saturação que queríamos. Algumas cores que existem como uma mistura — como o salmão, que fica entre o laranja e o rosa — podem parecer turvas ou opacas. Mas havia uma nitidez no Pantone 1625. Não parecia um borrão entre duas outras cores.”

Créditos de Imagem: Graham Tolbert

Com a amostra final selecionada, a equipe responsável por trazer SABLE, fABLE ao mundo tinha uma referência para compartilhar com qualquer pessoa, trabalhando nos diversos projetos que variavam desde produtos impressos até placas pintadas à mão. “Pantone é nossa âncora, como nossa Estrela do Norte, e tentamos deixar tudo o mais próximo possível disso.”, disse Johnson. “Quando você pode imprimir com Pantone, obviamente consegue consistência em todos os seus produtos. Mas também é algo que força todos os envolvidos a se esforçarem.”

Uma vez estabelecido o conceito de SABLE, fABLE e definidas as especificações de design, Vernon se reconectou com Eric Timothy Carlson, um artista e designer gráfico baseado no Brooklyn que havia trabalhado nos álbuns anteriores do Bon Iver, 22, A Million e i, i. Ambos os discos inspiraram sistemas artísticos elaborados que incluíam pictogramas personalizados, simbologia codificada e vários tipos de construção de mundo arcanos e metódicos através do design. Para SABLE, fABLE, energias semelhantes foram usadas de maneira diferente. “Você poderia levar isso ao extremo e apenas postar o quadrado preto-e-salmão repetidas vezes, mas isso não é uma experiência muito generosa para muitas pessoas”, disse Carlson, que Vernon chamou de “o colaborador mais próximo de qualquer pessoa que já tive na banda.”

Créditos de Imagem: Graham Tolbert

A melancolia de SABLE deu lugar a uma mudança de perspectiva para o mundo expandido de fABLE — para o qual a cor salmão foi usada de maneira abrangente. “Definitivamente precisava estar na Califórnia, um lugar muito diferente de Wisconsin.”, disse Vernon sobre onde queria que esse mundo diferente existisse. Vernon estava dividindo seu tempo entre Eau Claire, Wisconsin, e Los Angeles durante o período de elevação emocional que inspirou fABLE e a cidade se tornou uma espécie de segunda casa para a equipe que ele reuniu ao seu redor.

“Passamos boa parte de um ano apenas criando arte”, disse Graham Tolbert, fotógrafo que cresceu com Vernon e trabalhou de perto com ele e Carlson em projetos anteriores do Bon Iver. Grande parte disso aconteceu em Los Angeles, que aparece de forma proeminente em uma zine de edição limitada relacionada a fABLE, oferecendo um olhar por trás das cenas de um álbum cuja arte da capa se mostrou tão intrigantemente minimalista. “É meio que um retrato/bíblia do projeto”, disse Carlson sobre a zine. “Há todo um mundo de outras coisas que parecem fiéis à energia e ao diálogo que estavam acontecendo na época em que trabalhávamos juntos.”

Várias fotos feitas para a zine mostram Vernon vestido da cabeça aos pés com roupas na cor salmão. “Quase todas as roupas eram tingidas sob medida”, disse Tolbert. “Passamos dias tingindo roupas e vendo como o corante se fixava em diferentes tipos de tecidos. Eric descobriu quais proporções funcionavam melhor.”

Algumas fotos levam o conceito de salmão ao pé da letra, com Vernon posando ao lado de um peixe de 30 quilos comprado para a ocasião e mantido no gelo. “A melhor parte disso é que acabamos comendo o peixe depois”, disse Tolbert.

O destaque da zine é um retrato dramático de Vernon que foi usado como principal fotografia de divulgação de SABLE, fABLE, com o líder da banda imerso em salmão e cercado por figuras vestidas de preto que parecem agarrá-lo. “Ele queria que fosse muito LA, com palmeiras e cactos”, disse Carlson sobre o cenário paradisíaco na Huntington Library, Art Museum, and Botanical Gardens em San Marino. “A ideia era que Justin fosse o ‘Homem em Salmão’ depois de ter sido o ‘Homem de Preto’, com espíritos, demônios ou anjos ao redor.”

Créditos de Imagem: Graham Tolbert

O Pantone 1625 CP enfeitou muito mais do que a arte da capa, fotos e zines, à medida que SABLE, fABLE continuou encontrando seu caminho em novos contextos, desde seu lançamento na primavera. Para expandir ainda mais o universo do álbum, Bon Iver fez parceria com um elenco eclético de colaboradores para criar produtos na cor salmão (e/ou inspirados nela), incluindo spritzes para beber, sanduíches de ‘bagel’, velas, cadernos, suéteres, tatuagens temporárias, peixes enlatados e muito mais.

“O maior valor de usar o Pantone é que utilizamos a cor para nos comunicar com terceiros.”, disse Johnson, do Secretly Group, sobre as colaborações. “O universo da Pantone é um elemento que se torna necessário para essa parte da narrativa, garantindo que a cor apareça em todos os produtos, conforme imaginado. As amostras Pantone são nossos pontos de referência para alinhar a precisão da cor em toda a campanha.”

“Nunca fizemos nada assim.”, disse Vernon sobre o lançamento de produtos guiado pelo que está por trás — e na superfície — da cor salmão e sua manifestação final no Pantone 1625 C. “Mas toda banda, punk ou pop, está em um espaço comercial, capitalista. Bandas punk antigas foram as melhores construtoras de marca de todos os tempos. Black Flag tem o melhor logo de todos. Eu pensei: ‘Vamos aproveitar isso.’”

Traduzido por
Blanca Lliahnne
Expert em Cores e Tendências